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Tragédia reúne mães de mortos por policiais: ‘Eles acham que a gente no tem voz’

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  • Jefferson Puff
  • Da BBC Brasil no Rio de Janeiro

Maria de Ftima dos Santos Silva
Legenda da foto,

Somente há uma semana Maria de Fátima conseguiu falar sobre a morte do filho na Rocinha em 2012

“Cheguei na hora. Vi direitinho. O policial da UPP já em posição de atirar. Foi quando puxei meu filho pela camiseta, no meio da gritaria. Ele (o policial) atirou, mas quem morreu foi o filho da minha amiga”, conta Fátima dos Santos Pinho de Menezes, de 40 anos, ao lado amiga Ana Paula Gomes de Oliveira, de 37 anos, na comunidade de Manguinhos, na Zona Norte do Rio de Janeiro.

Ambas moradoras da mesma favela, as duas mal se conheciam antes da tragédia ocorrida no dia 14 de maio desse ano, quando o menino Johnatha de Oliveira Lima morreu, aos 19 anos, baleado durante uma confuso entre policiais de UPP armados e crianças e adolescentes que atiravam pedras neles.

Agora, integram juntas o Fórum Social de Manguinhos, ONG local que advoga pelos direitos da comunidade, e têm comparecido a manifestações, marchas e reuniões de mães que perderam filhos em comunidades cariocas.

Fátima j havia perdido um filho, Paulo Roberto Pinho de Menezes, no dia 17 de outubro de 2013. Aos 18 anos, o garoto foi espancado até a morte e depois asfixiado.

Consultada pela BBC Brasil, a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro respondeu sobre os três casos e disse que o policial responsável pelo disparo na ocorrência que acabou tirando a vida de Johnatha foi indiciado pelo crime de homicídio culposo (sem intenção de matar), e que segue trabalhando na UPP de Manguinhos enquanto aguarda julgamento.

Quanto ao caso de Paulo Roberto, cinco policiais da mesma UPP foram indiciados pelo crime de leso corporal seguida de morte, e trabalham em outros batalhes enquanto aguardam julgamento.

“Hoje em dia os jovens de comunidade têm que provar o tempo todo que são produtivos, que no estão envolvidos com nada. uma pressão constante, e há muito desrespeito, há muita injustiça”, diz Ana Paula Gomes de Oliveira.

Conexo

Legenda da foto,

Mulheres se uniram e promovem reuniões de mães de vítimas policiais nas comunidades do Rio

Embora esteja distante, na Rocinha, favela da Zona Sul do Rio, no outro lado da cidade, Maria de Fátima dos Santos Silva, de 55 anos, tem muito em comum com as duas amigas.

Ela também perdeu um filho, Hugo Leonardo dos Santos Silva, aos 32 anos, no dia 17 de abril de 2012, meses antes da instalação da UPP na comunidade.

Embora seu caso seja mais antigo, somente há uma semana ela conseguiu falar publicamente sobre sua história. “Foi lá em Manguinhos, durante uma manifestação. Conheci a Ana Paula e a Fátima. Elas me deram muita fora. Foi uma vitória, pegar o microfone e contar, diante de todo mundo, a minha história. bom a gente ver que no est sozinha”, diz.

Sobre o caso, a Secretaria de Segurança Pública disse que a ocorrência foi registrada como homicídio decorrente de intervenção policial, que ocorreu antes da instalação da UPP da Rocinha, e que permanece sendo investigada.

Integrantes de grupos como o Fórum Social de Manguinhos, Mães Vítimas de Violência e a Rede de Movimentos e Comunidades Contra a Violência, as três tornam-se, aos poucos, ativistas nas redes sociais e agora do fora umas s outras.

As três mães contaram suas histórias de dor e perda BBC Brasil para esta reportagem, parte de uma série especial sobre o tema da violência policial e contra policiais.

Os temas foram sugeridos pelos leitores da BBC Brasil nas redes sociais para nossa cobertura do tema de segurança pública no contexto das eleições presidenciais, de acordo com a proposta do projeto da BBC Brasil #SalaSocial, que pretende usar as redes sociais como fonte de histórias originais.

No início da semana, um levantamento feito pela BBC Brasil mostrou que em 2013 foram registrados 1.259 homicídios cometidos por policiais e, ao mesmo tempo, 316 agentes da lei foram assassinados (dados de 22 Estados). Outra reportagem mostrou que o tema da violência policial est ausente dos programas dos principais candidatos Presidência, no que analistas atribuíram ao medo de perder o eleitorado mais conservador.

Duas netas de Maria de Fátima acompanharam com atenção a reportagem na Rocinha, sendo que Carolina era a mais falante. Em Manguinhos, Maria Paula e Alejandra corriam e brincavam enquanto as mães, respectivamente Ana Paula e Fátima, davam suas entrevistas.

Todas com menos de dez anos, presenciaram a emoção, choro, saudade, revolta e esperança da avó e das mães ao falarem sobre seus filhos mortos de forma violenta.

“Nós nos ajudamos, e queremos Justiça. Somos as vozes dos nossos filhos que se foram. Mas lutamos por elas também. Para que no futuro no seja uma delas conversando com um repórter. Para que tenham um futuro sem essa dor”, diz Ana Paula.

Veja abaixo os principais trechos dos três depoimentos:

Depoimento de Maria de Fátima dos Santos Silva

Legenda da foto,
“Agora sou a voz do meu filho”, diz Maria de Fátima

“Eles vinham atrs dele, era sempre ele. Queriam que ele dissesse coisas, mas ele no sabia de nada. Na primeira vez, bateram muito. Entraram na casa dele e espancaram. Na segunda, levaram para a delegacia, e ele foi liberado. Na terceira eles conseguiram, mataram meu filho”, conta a diarista Maria de Ftima dos Santos Silva, de 55 anos, moradora do Beco 199, na Rocinha.

Naquele dia 17 de abril de 2012, Hugo Leonardo dos Santos Silva descia as escadas de um beco estreito quando foi surpreendido por trs PMs que ordenaram que ele levantasse as mos. O rapaz de 32 anos estava em frente a uma creche, onde buscaria o sobrinho. J com as mos para o alto, andou na direo dos policiais, quando foi baleado no abdmen.

“Uma das minhas filhas ouviu. Nessa hora, os policiais discutiram entre si e um disse: ‘Olha a merda que voc fez, agora termina’. Foi quando atiraram na cabea do meu filho, que j estava cado no cho. E a comeou uma confuso para conseguir lenis para levar para o hospital. Uma gritaria. Os moradores no queriam dar, mas eles ameaaram e assim conseguiram desfazer a cena do crime. Ele j estava morto”, diz Maria de Ftima.

A polcia alegou que houve tiroteio e que Hugo seria traficante. “Ningum ouviu mais do que aqueles dois tiros. E veja bem, a creche fica num beco muito estreito. Se tivesse havido tiroteio, muito mais gente teria morrido ali. Crianas, inclusive, do jeito que o lugar apertado”, diz a me.

Consultada pela BBC Brasil, a Secretaria de Segurana Pblica do Estado do Rio Janeiro informou que o caso foi registrado como homicdio decorrente de interveno policial e que as investigaes esto em andamento.

Maria de Ftima nunca mais passou em frente creche. “No consigo”, diz.

Na sala de sua casa, no alto da favela da Rocinha, Maria de Ftima ainda chora quando relembra a histria. “Eu tomei muito remdio para dormir, para os nervos. Nunca mais fui a mesma pessoa. s vezes, estou ali cozinhando e ouvindo uma msica e comeo a chorar. saudade”, diz.

De um lado, bijuterias, elsticos e materiais para confeccionar brincos e correntes. Do outro, o computador aberto em sua pgina do Facebook. Ela conta que, se no est fazendo faxina, faz artesanato e interage com outras mes nas redes sociais, para “ocupar a cabea”.

Ao lado do computador, um objeto chama a ateno. Uma cruz de madeira. “Mandei fazer para participar de uma passeata na Candelria, relembrando a chacina (de oito jovens nas escadarias da igreja, em 1993)”, conta.

“Minha cruz eu carrego todo dia. A gente pobre, preto, desempregado, favelado. Eles pensam que a gente no tem voz. O que mais tem aqui dentro gente apanhando. Tapa na cara, humilhao. E morrendo tambm. Isso pacificao? Mas eu estou falando pelo meu filho. Agora eu sou a voz dele”, diz.

Para a diarista, o que importa limpar o nome de Hugo. “Ele no era traficante, era trabalhador. Aqui tenho a carteira de trabalho, os holerites, tudo aqui na pastinha, voc quer ver? Ah, e o que eu quero? Justia. Eu quero Justia. Algum tem que fazer alguma coisa. Pouco depois dele mataram o Amarildo, que todo mundo aqui conhecia. No pode ser assim para sempre, no pode”, diz.

Depoimento de Ana Paula Gomes de Oliveira

Legenda da foto,

” muito triste, tiraram um pedao de mim”, diz Ana Paula

“Eram umas quatro horas da tarde do dia 14 de maio deste ano, e eu tinha acabado de fazer um pav. Pedi ao Johnatha para levar para a minha me, que mora aqui em Manguinhos tambm. Bati uma foto dele com o pav na mo e mandei para a minha me por WhatsApp”, conta Ana Paula Gomes de Oliveira, de 37 anos, formada em pedagogia.

“Olha, assim que est saindo daqui. Inteirinho”, dizia a mensagem. “Me, tu demais, no acredito que voc est fazendo isso”, o garoto respondeu bem-humorado, antes de dar um beijo em Ana Paula e sair com a namorada.

“Como eu ia imaginar que aquele seria meu ltimo momento com ele?”, diz a me de Johnatha de Oliveira Lima, que morreu duas horas depois, aos 19 anos.

Ana Paula foi ao supermercado, e escolhia o refrigerante que o filho gostava. “Ele era a alegria da casa. Carinhoso comigo, com todo mundo. Sorridente, alegre”, conta.

Na volta da casa da av, Johnatha acabou entrando numa parte da favela onde acontecia uma confuso entre crianas e adolescentes. ” comum isso aqui. As crianas e jovens ficam na rua conversando, e por uma palavra atravessada, por alguma troca de ofensas, a polcia agressiva”, conta Ana Paula.

Quem testemunhou a cena foi Ftima dos Santos Pinho de Menezes, de 40 anos, que foi avisada por vizinhos de que uma confuso se formava ali por perto e a situao j era tensa.

“Eu fui l ver, e o lugar bem perto da minha casa mesmo. As crianas e adolescentes comearam a jogar pedras nos policiais, que estavam com os fuzis em punho. Eu cheguei na hora. Vi direitinho. O policial da UPP j em posio de atirar. Foi quando puxei meu filho pela camiseta, no meio da gritaria. O policial atirou, e quem morreu foi o filho da Ana Paula, minha amiga”, conta.

No outro lado da comunidade, ainda no supermercado, Ana Paula ouviu tiros e comentou com a caixa enquanto pagava as compras. No tinha ideia de que os disparos que ela ouvia eram os que matavam seu filho enquanto ela comprava o refrigerante favorito do menino e se preocupava como o pav teria chegado ao destino.

” muito injusto. muito triste. At quando vai ser assim? Eles me tiraram um pedao. Di tanto, tanto, que s mesmo outra me pode entender. Eu perdi esse pedacinho de mim, mas meu marido e minha filha tambm me perderam, porque eu nunca mais vou ser a mesma pessoa que eu era”, diz.

Consultada pela BBC Brasil, a Secretaria de Segurana Pblica do Estado do Rio de Janeiro informou que o policial responsvel pelo disparo foi indiciado pelo crime de homicdio culposo (quando no h inteno de matar) e que ele segue lotado na UPP de Manguinhos enquanto o julgamento tramita na Justia.

“Voc quer saber o que di tambm? Ver os policiais rindo e gozando da nossa cara do lado de fora da igreja em que acontecia a missa de stimo dia do meu filho. Parentes se irritaram, mas eu pedi para deixarem, porque eu no queria mais confuso. muito humilhante, um desrespeito muito grande”, diz Ana Paula.

Depoimento de Ftima dos Santos Pinho de Menezes

Legenda da foto,

Para Ftima, falar sobre o filho morto pode evitar que casos se repitam

“Di demais lembrar. Di demais. Eu cheguei correndo, e eles no queriam me deixar passar. Minha filha ficou, mas eu passei por baixo das pernas do policial. Meu menino estava no cho, deitado, e eu acho que ele s estava esperando por mim. Era aquela gritaria, tudo ao mesmo tempo, e ele deu o ltimo suspiro e morreu, nos meus braos.”

Foi assim que h quase um ano, em 17 de outubro de 2013, Ftima dos Santos Pinho de Menezes, ento com 39 anos, se despedia do filho Paulo Roberto Pinho de Menezes, de 18 anos.

Ela demora a contar sua histria. Com um olhar distante, sereno, d fora para a amiga Ana Paula durante a entrevista, e comenta a situao de violncia em geral na favela de Manguinhos, na Zona Norte do Rio, pacificada em janeiro do ano passado.

“Sabe, a gente achou que quando eles [os policiais de UPP] chegassem, viria a paz, a segurana, a tranquilidade que a gente quis durante todos esses anos. Mas humilhao, pancadaria, e morte, morte e mais morte. Eles esto matando com fuzil as crianas que jogam pedras. No podemos deixar”, argumenta.

Basta comear a contar o que aconteceu naquela noite, no entanto, para a fisionomia de Ftima mudar. O olhar distante e sereno d lugar ao choro, gestos rpidos e um olhar que parece traduzir uma frao do desespero sentido ao presenciar o ltimo suspiro do filho espancado at a morte.

“Eu fui avisada da confuso na favela. Fiquei com medo, e fui procurar o Paulo Roberto. Eles tinham marcao com ele. Era sempre ele que era abordado, revistado. Eles faziam perguntas, encrencavam. Eu sabia disso, ento fiquei muito preocupada”, conta.

Quando foi se aproximando do local, amigos do menino j vinham gritando: “Eles vo matar ele, tia, eles vo matar ele. Eles esto batendo muito nele, vo matar”.

“Ele vinha de um barzinho, e ia dormir na casa de um amigo. a nica diverso que eles tm, ficar conversando nesse barzinho at tarde. Eu tinha medo, mas adianta proibir? Os policiais da UPP estavam fazendo abordagem num beco, e quando ele foi passar, houve confuso e comearam a bater nele. Bateram at ele quase morrer, depois asfixiaram”, diz Ftima.

Ela conta que os policiais quiseram argumentar que ele estava drogado e que tinha tido um mal sbito, embora na certido de bito a causa da morte seja clara: “Mltiplas leses e asfixia mecnica”.

“Os exames da percia mostraram que ele no tinha droga no organismo, e no dia seguinte, no caixo, dava para ver os hematomas. O rosto dele todo arranhado, cheio de marca roxa”, diz a me, acrescentando que no seu caso tambm teve que enfrentar as piadas e gozaes dos policiais do lado de fora da Unidade de Pronto Atendimento para onde o menino foi levado.

Consultada pela BBC Brasil, a Secretaria de Segurana Pblica do Estado do Rio de Janeiro confirmou que os cinco policiais da UPP de Manguinhos foram indiciados pelo crime de leso corporal seguida de morte e que esto lotados em diferentes batalhes da Polcia Militar enquanto aguardam julgamento.

“Eu sei que no vai trazer ele de volta. Mas hoje faz quase um ano, 11 meses que ele se foi. E eu estou aqui, falando dele para voc. Eu prometi isso pra ele. Ele foi, mas eu fiquei, e eu posso ser a voz do meu filho aqui, at que se faa Justia, e que outras mes no passem mais por isso. Ningum deveria passar por isso. Di demais”, diz Ftima.

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