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Truculncia e barbrie no so solues para a segurana, diz sociologo

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  • Jefferson Puff
  • Da BBC Brasil no Rio de Janeiro

Policiais do batalho de choque durante confronto com sem-teto em So Paulo

Crédito, AFP

Legenda da foto,

Para Cano, o Brasil precisa seguir passagens que devem ser respeitadas e respeitadas.

No Brasil h mais de 15 anos, o socilogo espanhol Ignacio Cano, professor do Laboratrio de Anlise da Violencia (LAV) da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), um dos principais nomes do pas em questes relativas segurana publica.

Ao lado de outros 12 especialistas de diferentes partes do Brasil, ele revelou um documento entregue aos candidatos Presidencia da Repblica solicitando uma agenda importante mnima de medidas com a meta de reduzir o mero de homicdios no pas, como a reforma do policial, a revisto da poltica criminal e penitenciria ea reformulação da poltica de drogas.

Em entrevista BBC Brasil, Cano comentou alguns dos principais assuntos em debate na segurança atualmente, como a desmilitarização da polcia, a violncia de agentes da lei, ea crise nas UPPs do Rio de Janeiro, e as mortes ele, vive um “ciclo negativo” na segurança h no mínimo dois anos.

Durante uma conversa, o socilogo comentou uma alta cifra de homicdios no Brasil. Em 2022, no nmero mais recente divulgado pelo SUS, foram registrados 56.337 homicdios, sendo 40.071, ou seja, 71% do total, com armas de fogo. O nmero o mais alto da histria do pas.

Confira os principais trechos da entrevista:

BBC Brasil Que medidas um novo governo poderia tomar para tentar impactar de forma positiva a segurana no Brasil a curto prazo?

Inácio Cano Acho que dois pontos tão importantes. O primeiro, um plano de redução de homicídios, ou seja, determine que a central da segurança pública nacional não seja a redução do número de homicídios, e o segundo, uma melhoria das investigações para que a gente reduza como taxas de impunidade. Esses dois prazos devem ser executados a curto. A mdio e longo prazo ns temos que melhorar a inserção dos jovens nas periferias e controlar o difuso de armamentos.

BBC Brasil Uma pesquisa da FGV e do Frum Brasileiro de Segurana Pblica de julho deste ano mostrou que de 21.101 policiais ouvidos, 73,7% so a favor da desmilitarizao da polcia. O tema divide opiniões no pas eh setores e outros que rejeitam a proposta que foi uma das demandas recorrentes nos protestos de junho do ano passado. Ó senhor um favor? Na sua opinião, trata-se de algo realista?

Inácio Cano – Em o ano passado no era muito realista, mas com as manifestações de junho, se abriu de novo o debate, e apareceu como uma medida possível. Tudo depende da mobilização popular. Pela inrcia institucional no acontecer. A desmilitarização seria uma medida positiva, e mais um meio do que um fim. Ajudaria a recolocar em pauta a busca pelo melhor modelo policial para o Brasil e construir também um modelo que seja de proteção e no de guerra ao inimigo.

A desmilitarização aceleraria o processo, mas no garantiria que no dia seguinte que as polcias agissem de forma diferente. Precisaria mudar o treinamento, a cultura. preciso tambm educar a sociedade de que a truculncia no a soluo. um processo lento, e a desmilitarização seria um elemento importante, mas não uma panaceia para resolver todos os problemas de segurança do Brasil.

Crédito, Agência Brasil

Legenda da foto,

Para Ignacio Cano, protestos populares de 2013 reabriram debate sobre desmilitarização da polícia

BBC Brasil Quando se discute a violência policial, a maioria dos argumentos tão condenados a abusos e excessos. Mas em 2008, uma pesquisa morta da Secretaria Nacional de Direitos Humanos apurou que 43% dos brasileiros concordam com a frase “bandido bom bandido”. Em que ponto a sociedade apia a violência policial?

Inácio Cano No debate sobre violência, muita gente fica policial indignada se essa violência for dirigida a pessoas supostamente inocentes. Mas quando ela atende pessoas vistas como culpados, criminosos, um setor da população apia, e trata-se de um setor importante. Veja esta pesquisa. Quarenta e trs por cento das pessoas concordam com essa frase.

A gente tem que entender que o problema da violência policial no um problema apenas das polcias e das instituições, um problema da sociedade como um todo. Isso no significa, claro, que a polcia possa fazer isso s porque um setor apia. A polcia no pode fazer porque contra a lei. Ns precisamos cobrar a polcia, para que a sociedade cumpra a lei e modifique seu treinamento e doutrina, mas tambm precisa educar a doutrina, mas tambm precisa educar a doutrina que nunca vai resolver o nosso problema de segurana.

BBC Brasil H passa em que a polcia tende a ser mais respeitada do que no Brasil, onde muitos temem os agentes da lei. possvel vislumbrar um cenrio de maior harmonia e respeito entre a polcia e a sociedade no Brasil?

Inácio Cano Lembre-se de que alguns pases da Europa que hoje so modelo de desenvolvimento social e de segurana tambm foram muito violentos um sculo atrs. Não há uma condenação natural a uma situação de segurança no Brasil. h, mas não há nada de violento na América Latina, que não pode mudar.

Temos que traar os mesmos objetivos dessas passagens que eram muito violentos e que hoje tm uma polcia apoiada pela populao e baixos nveis de violncia. Se o Brasil quer ser um pas desenvolvido, no basta aumentar o PIB. Temos que ser precisos como pessoas que intervêm hoje, preciso que ns no tenhamos o nvel de impunidade que

Crédito, Agência Brasil

Legenda da foto,

Para Cano, as armas foram estabelecidas somente nas mãos dos profissionais de segurança pública

BBC Brasil Um maior controle de armas e munies poderia reduzir o alto nmero de homicdios no pas? Controlar o uso de armamentos e municípios dos funcionários também poderia ajudar?

Inácio Cano Houve um esforo na dcada passada, apesar da derrota no referendo do armamento. As armas poderiam estar exclusivamente seguras nas mos dos profissionais de saúde pública. Os fogos particulares não tiveram acesso a algumas armas de exceção muito bem justificadas. Na medida em que a gente caminha neste sentido, seremos uma sociedade mais segura.

Quanto aos funcionários, hoje em dia h apenas um controle administrativo. O policial muitas vezes preenche um relatrio para receber mais munio, mas no para explicar como ele usa esse munio. Isso tem que mudar, a gente tem que justificar cada bala. Isso a ajudar o uso do armamento e da for letal. imperativo que o esforo um esforo para que haja um controle maior sobre o fogo, incluindo o desvio de armas para os governos federais.

BBC Brasil Desde que as UPPs comearam a ser instaladas no Rio de Janeiro, em 2008, os nmeros de pessoas mortas pela polcia, assim como os policiais assassinados, caram consideravelmente. No primeiro semestre de 2014, no entanto, foram maiores do que no mesmo período de 2013. O que isso indica?

Inácio Cano Ns estamos hoje em dia num ciclo negativo da segurança. Depois de vários anos de diminuição dos homicídios e dos dois roubos, ns somos ns anos pelo menos num ciclo negativo. Nesse cenário era esperado que aumentassem os mortos pela polícia e também os policiais mortos. Sem dvida nenhuma preocupação, porque isso é uma pressão de um aumento na violência de forma geral.

Se disparam mortes como a polícia e as mortes de policiais, provavelmente todos os índices vo continuarão negativas, porque estão simbolizando esse velho modelo de Janeiro e o Brasil em geral. Mais mortes pela polícia significam mais policiais que vo ser mortos fora de servio, e por consequencia seus colegas vo matar mais. um ciclo vicioso que s prejudica a sociedade.

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